Por Mauricio O. Dias – comoeueratrouxa
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Um amigo me emprestou o livro ‘Conversations with Wilder’ (Knopf, Nova York, 1999). O autor é o cineasta Cameron Crowe, e o Wilder a que o título se refere é seu colega Billy, falecido em 2002.
O austríaco Wilder, pra quem não sabe, foi um dos maiores diretores do cinema americano, tendo feito um punhado de filmes clássicos e o melhor filme sobre cinema, ‘Crepúsculo dos Deuses’ (Sunset Boulevard, 1950).
Tendo sido nomeado diversas vezes para o Oscar e ganho como roteirista (três vezes), diretor (duas) e produtor, Wilder era membro da Academia de Artes Cinematográficas – a instituição que anualmente decide quem vai levar o Oscar pra casa.
As tais conversas do título em inglês se deram entre 1997 e 1998, quando o já há muito aposentado Wilder contava com noventa anos de idade. Num trecho, em uma cafeteria, Crowe nos conta:
– Você viu ‘Titanic’? – Wilder pergunta. Ele se inclina pra frente, para ficar mais próximo. – Já viu um bostalhão como esse? (do original ‘horseshit’)
Wilder olha por cima dos óculos, balança a cabeça.
– Eu não consigo acreditar nisso. O dinheiro gasto. Um estúdio vai até outro e diz: Ajudem-nos a terminar isso?
Wilder acha irônico o fato de um único filme ser tão caro que dois estúdios têm que se unir para bancá-lo. Crowe comenta que gostou da química dos atores principais. Crê que eles transcenderam o roteiro.
– Que roteiro?
Após dizer isto, Wilder bebe um gole do café: – Estou te dizendo, se isso ganhar o Oscar da Academia, eu vou berrar.
Naquele ano, ‘Titanic’ ganharia os Oscars de melhor filme e direção, além de outras 9 estatuetas. Mas não foi sequer indicado para o de roteiro, escrito pelo próprio diretor do filme, James Cameron.