Cultura contemporânea?

maio 25, 2011

Nota: Neste post eu comparava dois vídeos, um brasileiro e um feito nos USA.  Agora, mais de três anos depois, já pela segunda vez tenho de trocar o link do vídeo, que caducou. Não sei se sempre haverá um link disponível, na internet as postagens não parecem serem feitas para durar muito tempo. De qualquer maneira, se for ler o post abaixo, vale conferir se os links dos vídeos estão disponíveis antes de o ler – ou ficará sem ver o material a que o texto faz referência.

Por Mauricio O. Dias – comoeueratrouxa Consegui, com valioso auxílio de meu velho amigo M.A.Barbosa (http://twitter.com/BartBarbosa) inserir uma coluna com meu twitter aqui no blog. É a coluna à direita dos textos. Dito isto, devo dizer que 80% do que leio e escrevo no twitter é algo voltado para um público que usa a internet cerca de duas horas/dia. Eu mesmo, embora me encaixe no perfil (até com folga, leio bastante on line, praticamente todos os dias, incluindo fins de semana), volta e meia me vejo na situação de estar boiando nos assuntos a que outros (‘outros’  = o grupo de pessoas a que estou conectado) se referem. Fazem gracejos com palavras-chaves como ‘Restart’, ‘Felipe Neto’, usam expressões que devem ser deboches com erros gramaticais de alguém célebre – como “todos chora”.  E eu leio estas coisas e sei lá do que estão falando, e pouco desejo saber. Cheguei inclusive a ter, em alguns momentos, certa raiva de quem sabia. É lançado um videoclipe onde o cantor do grupo de rock Radiohead fica dançando sozinho, numa espécie de mímica, e instantaneamente ‘todo mundo’ fala a respeito, e além de suas próprias observações ainda retransmitem observações alheias, uns relançam o vídeo alterando o áudio original para um forró. Ah, o humor… E se você não se interessar em ao menos saber o que é aquilo, estará à margem: é como se fosse algo sem o qual o mundo não poderia mais existir. (Se quiser, você pode ver no http://www.youtube.com , basta procurar “Radiohead – Lotus Flower”. Mas aviso que a música é tediosa, e o vídeo não vai acrescentar NADA à sua vida.) E isto a que me refiro é porque estou conectado a poucas pessoas, algumas as quais eu já conhecia pessoalmente fora daquele pequeno mundo, outras que já conhecia da grande mídia, outras que escolhi por ter conhecido na internet e gostado de algo que escreveram.  Enfim, pessoas às quais eu escolhi me conectar, e das quais posso me desconectar a qualquer hora. Mas em círculos mais amplos, os tópicos abordados devem ser outros, futebol, novela de TV, pagode, funk ‘proibidão’, etc. Voltando ao MEU círculo: Se as coisas a que me referi dois parágrafos acima, feitas em grande parte por pessoas de minha geração, me parecem sem sentido, fico imaginando como então pareceriam às pessoas da geração dos meus pais, aqueles que eram jovens nos anos 1950, que não têm as referências que eu possuo. Não que seja tudo chato no twitter, há possibilidades muito interessantes. A atualização também é constante, as novidades que os mais velhos vêem na TV, várias vezes eu já havia tomado conhecimento delas com oito horas de antecedência. Mas que em grande parte a ferramenta cai pra essa coisa de identidade tribal, e culto à novidade, isto é inegável. Não lembro de ter visto alguém conhecido ‘twittando’ sobre Aristóteles, Cervantes, Machado de Assis, etc. Mas quero deixar mais clara esta coisa que o twitter tem de ‘piada interna’, ‘pregar para o coro’, ou seja, algo que me parece ser voltado para um círculo de ‘iniciados’, e que se retroalimenta autofagicamente. Vou dar exemplos concretos, fazendo uma analogia em relação ao humor televisivo: Um quadro do velho sucesso televisivo ‘Escolinha do Professor Raimundo’ onde o saudoso Rogério Cardoso – Rolando Lero – e Chico Anysio desfiam suas respectivas verves (assista e depois volte aqui para me permitir completar o raciocínio): http://www.youtube.com/watch?v=V_YPkHBF2xQ O programa era voltado pro grande público, sendo capaz de atingir diferentes faixas etárias. Se você é alfabetizado em português, já tem o requisito necessário para achar – ou não – graça no que está ali. Claro que é útil conhecer previamente o personagem ‘Rolando Lero’, saber que ele é um tremendo embromador, dono de uma lábia capaz de fugir do ponto principal a qualquer custo. É útil também saber quem foi o Marechal Rondon. Mas mesmo quem tomasse contato com o personagem pela primeira vez agora, e desconhecesse a figura histórica de Rondon, ainda assim estaria apto a achar graça. O humor está ali mesmo, é desfiado diante dos olhos do espectador.  Atente para o detalhe de que apenas dois atores mantêm um diálogo vivo por mais de cinco minutos – até a entrada do terceiro personagem – , e cinco minutos é tempo à beça em TV. Após o exemplo acima, quero dizer que, mais recentemente, lembrei de outro velho esquete de um programa de humor, desta vez um programa americano. Após ter descoberto o dito cujo disponível na internet, ‘twittei’ – ou ‘tuitei’ – sugerindo às pessoas que o assistissem: ‘The Joe Pesci Show’, um quadro que havia no ‘Saturday Night Live’ nos anos 1990. Mas este segundo esquete não é como o do Chico Anysio, e envolve uma série de conhecimentos para além do que se vê no vídeo. Antes de dar o link, estabeleçamos o que o espectador precisa saber previamente para captar o humor ali contido. Em primeiro lugar, se você está lendo este texto em português, é necessário que entenda razoavelmente inglês, pois não há legendas no video. Mas não vou enumerar esta característica entre os pré-requisitos para compreensão do esquete, pois ele é apenas outro lado de uma mesma e desprezível questão presente também no ‘Escolinha do Professor Raimundo’ – quem não entende português, não entenderá a ‘Escolinha’. 1º) É preciso saber quem é Joe Pesci. 2º.)  É preciso saber quem é Robert de Niro. 3º.) É preciso conhecer os filmes ‘O Touro Indomável’, ‘Os Bons Companheiros’ e ‘Cassino’, todos dirigidos por Martin Scorsese e estrelados por Robert de Niro e Joe Pesci. Não apenas saber que estes filmes existem, nem tê-los assistido uma única vez, mas ter na memória trejeitos dos personagens e trechos dos diálogos. 4º) Entender o senso de humor borderline que se vê em ‘Os Bons Companheiros’ e ‘Cassino’, o qual está no limite da sanidade e aborda com deboche a violência extrema, não sendo palatável para todos os estômagos. 5º)  É preciso saber da influência judaica no show business americano para entender a piada da páscoa judaica (em inglês “Passover”). 6º.)É muito útil (talvez não seja ‘necessário’, mas é muito útil) saber da visão estereotipada e algo preconceituosa que certos setores da população ítalo-americana dos arredores de Nova York têm em relação aos judeus. É muito útil (talvez não seja ‘necessário’…) saber que a expressão hebraica “Hava Naguila”, embora signifique uma exortação à alegria, não é usada no dia-a-dia pelos judeus, sendo mais conhecida pela letra de uma tradicional canção judaica.  Desejar “Hava Naguila” aos judeus seria, mal comparando, como desejar “La vie en rose” aos franceses: algo que não se usa. E é usado ali para reforçar a idéia de que o personagem possui uma visão estereotipada sobre outra cultura. 7º.) É muito útil (talvez não seja ‘necessário’…) saber que o verdadeiro Robert de Niro é bastante reservado e avesso a entrevistas e aparições em TV, o que torna sua presença ali algo ainda mais inusitado e significativo. Isto é muito útil também para entender porque quase o tempo todo em que está em cena ele fica em silêncio, apenas concordando, com gestos feitos com a cabeça. Dito tudo isto, acho o vídeo hilário – forneço o link mais abaixo. Mas meus pais, e outros com mais 60 anos, salvo raríssimas exceções, não têm como entendê-lo. E isto tem a ver com o que vejo no Twitter: sem as referências você não conseguirá ver graça em grande parte do que é dito ali. E se eu hoje já não vejo graça no clipe do Radiohead, quantos anos me restam antes de eu perder completamente qualquer vínculo com o povo do twitter e me juntar aos meus pais no grupo dos ‘coroas excluídos das rodinhas’? Talvez seja inevitável, parece-me uma solução mais viável do que ficar como algumas pessoas que vejo na mídia e no próprio twitter, as quais, estando já na faixa dos 50 anos de idade, o máximo de profundidade que conseguem alcançar é falar de filmes, séries de TV americanas, histórias em quadrinhos, e bandas de rock/pop, numa desesperada “Síndrome de Peter Pan” (ou seria de “Dorian Grey”?). Para ver o video do ‘The Joe Pesci Show’ ( que permaneça no ar por um bom tempo) – em inglês, SEM legendas:

https://vimeo.com/285629872

 

 


Doutrinação e banalização da educação feita com o apoio do dinheiro público

maio 16, 2011

Por Mauricio O. Dias – comoeueratrouxa

Para que escrever num blog? Pra manter um espaço virtual, um dentre milhões de outros? O último texto postado antes deste agora foi lançado há mais de um mês. Volta e meia penso em encerrar este ‘canalzinho’ que mantenho, mas ele ainda é útil para manifestar indignação contra certos absurdos.

Primeiro peço que você, leitor, leia o breve texto que se encontra em :

http://colunistas.ig.com.br/poderonline/2011/05/12/livro-usado-pelo-mec-ensina-aluno-a-falar-errado

Depois leia uma notícia mais antiga, que pode ser lida nos links:
http://www.filosofiacirurgica.com/2011/04/uma-geracao-de-doutrinados.html

http://revistaepoca.globo.com/Revista/Epoca/0,,EDG79463-6014-490,00-O+MISTERIO+DO+PROFESSOR+SCHIMIDT.html

http://www.escolasempartido.org/index.php?id=38,1,article,2,182,sid,1,ch

Abaixo, constatações minhas retiradas (e aqui editadas) de um email enviado a conhecidos, os quais, após verem os citados links, por desconhecimento e cinismo preferiram minimizar a relevância da questão:

Um sujeito sem diploma escreve um livro de História cheio de distorções e manipulações, uma avaliação do próprio MEC refuta o livro, e ainda assim, 10 milhões de cópias são vendidas para estudantes, provavelmente a imensa maioria comprada pelo próprio MEC com o dinheiro de todos nós.

Mao Tsé-Tung foi o homem que matou mais gente no século XX, o que em números absolutos oscila entre 30 e 50 milhões de pessoas *  – mais que Stálin ou Hitler. E ao falar sobre este monstro, o ‘livro’ afirma:

Foi um grande estadista e comandante militar. Escreveu livros sobre política, filosofia e economia. Praticou esportes até a velhice. Amou inúmeras mulheres e por elas foi correspondido. Para muitos chineses, Mao é ainda um grande herói. Mas para os chineses anticomunistas, não passou de um ditador.”

Amou inúmeras mulheres e por elas foi correspondido.” PQP! Isso é informação que deva constar de um livro de História? E aqui ainda omitem que ele traçava todos os rapazinhos que compunham sua guarda particular, fato amplamente divulgado.

Diante disso, qualquer um que tente desviar a questão central do texto para uma discussão sobre sistemas econômicos, passa automaticamente a ser cúmplice de uma tentativa de ocultação do pior crime que se cometeu num século repleto de atrocidades.

E EU PERGUNTO A VOCÊ, LEITOR: Acha que as duas notícias – a sobre a condescendência com os erros de português e a sobre o livro manipulador – , são apenas coincidência?

* – De acordo com alguns historiadores, o número chegaria a 70 milhões de pessoas. Isto é mais que duas vezes a população da Grande São Paulo, que além da capital inclui todas as cidades em volta, que fazem parte da região metropolitana: o ABC paulista, Diadema, Osasco, etc.